quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Espírito do Natal Eterno




“— Por que não festeja o Natal a seu modo e esquece que eu existo?
— Porque o Natal é  tempo de caridade e perdão -  respondeu o sobrinho. - É a época do ano em que homens e mulheres abrem  seus corações e  tratam todas as criaturas como iguais, tenham ou não dinheiro. Somos companheiros da mesma jornada. É por isso, tio, que eu repito: Deus abençoe o Natal!”
Um Conto de Natal – Charles Dickens


Por várias anos tentei escrever sobre o Natal. Mas o que eu poderia dizer que ainda não foi dito? Como dizer? Sendo minha época favorita do ano, eu tenho imensa dificuldade em expressar-me a respeito. Este ano, no entanto, aceitei o desafio.
            As pessoas que me conhecem, tal como prova a maioria de meus textos, poderiam dizer que, em geral, apresento uma visão cínica, racional, irônica a respeito de... bom, tudo. Seria de se esperar que, sendo o assunto Natal, frequentemente visto como uma época do ano marcada pelo consumismo e excessos, contraditoriamente ligada à religião e afastada da mesma, de ilusões infantis e desilusões adultas, seria a oportunidade para armar-me do mais fatal veneno verbal e inoculá-lo em todos os queridos símbolos da festividade.
Creio que poderia falar da forma como tantas tradições adotadas por nós brasileiros não fazem sentido no país tropical em que vivemos; certamente citaria como a Coca-cola comprou Papai Noel; explicaria a origem do Natal a partir de rituais pagãos; protestaria contra a pouca consideração para com outras religiões que também celebram eventos importantes no período; entre outras tantas críticas que não deveria deixar de tecer.
Mas acontece que nem mesmo eu resisto aos encantos do Natal. É verdade que cresci vendo filmes americanos sobre esta data, tendo sonhado por muito tempo com um “natal branco”. Porém, se não tinhamos neve, podiamos contar com a chuva. Aliás, todos os anos fico atenta ao momento em que as noites começam a exalar um “cheiro de Natal”. Trata-se de uma mistura de terra molhada, com cheiro de biscoito e um vento fresco a soprar pelas janelas, quebrando o forte calor de verão.
Outra comparação com o natal americano seria a questão de músicas. Certo é que nas festas de Natal de minha infância não ouvíamos músicas como White Christmas, It’s cold outside, ou Twelve days of Christmas, mas nossa tradição familiar demandava Roberto Carlos. Sendo meu avô conterrâneo e grande fã do Rei, inevitável que ganhesse todos os anos o novo disco de seu cantor favorito e o pusesse a tocar a noite inteira.
E como não gostar de tudo o que havia no Natal? Férias. Minhas comidas e doces favoritos. Sapatos na árvore a substituir as meias na chaminé gringa. Brinquedos novos, com aquele cheiro de plástico e da cola do adesivo, um acabamento que sempre acompanhava o presente se o mesmo tivesse de ser montado (eletrodoméstocos da Barbie ou veículos dos Comandos em Ação, por exemplo). Muitas vezes a reunião de primos, estreiando os brinquedos novos, fossem jogos de video game, bonecas, carrinhos ou pistolas de água.
Assim eu cresci, vendo no Natal uma época verdadeiramente mágica. Quando pequena cheguei ver uma rena do Papai Noel “estacionada” no quarto de minha avó, tão forte era o clima natalino que nos envolvia. Tudo sempre pareceu possível, principalmente no dia 24 de dezembro, a expectativa, os preparativos, uma véspera que sempre se mostrou muito mais Natal que o próprio dia de Natal.
Claro que muitos dirão que é fácil amar o Natal quando se é criança, marcado pela inocência, cego aos problemas adultos, sem preocupações para atrapalhar o feriado cristão. É inevitável crescer, inevitável tornar-se adulto. Com a passagem dos anos aprendemos que não há Terra do Nunca para fugirmos e sermos crianças para sempre.
Não me lembro de quando descobri que Papai Noel não existe. Acho que, na verdade, continuo a acreditar até hoje. Talvez não em um Papai Noel velhinho que vive no Polo Norte fazendo brinquedos para distribuir a todas as crianças do mundo, mas sim como um sentimento de felicidade, bondade, generosidade, entre outras energias positivas, que apresenta-se a todos aqueles que mantiverem seus corações abertos.
É por isso que, mesmo admitindo que um pouco do encanto do Natal se esvai a medida que envelhecemos, creio ser preciso saber manter vivo o espírito natalino, deixando-se levar pelo clima das festas, acreditando e envolvendo-se na magia da época.

 “Hei  de honrar o Natal no meu coração todos os anos! Hei de guardar os espíritos do Natal presente, do passado e do futuro e seguir suas lições!” – O Conto de Natal – Charles Dickens


Cristiane Neves
22/12/2010
01:17

Um comentário:

  1. Tô com preguiça de comentar, mas toh comentando. Li tudo, adorei o texto e seus natais são mto parecidos com os meus, por isso, pra mim so Natais são sim mto espaciais e têm sim, seu brilho, sua importância, sua magia.

    bJO! Marina

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