quarta-feira, 10 de novembro de 2010

La danza




         Ok, então eu estou em uma festa de arromba em que a “música” tocando quase estoura meus ouvidos. “Eguinha pocotó”, nada mais idiota do que isso poderia fazer sucesso. Não é só a letra, é o ritmo. Quando a música começa parece que o lugar se transforma em uma espécie de inferno barulhento, sem harmonia, quente e apertado por todas as pessoas que começam a pular ao mesmo tempo. E há tantas músicas como essa... Axé, funk, tanta coisa ruim que eu prefiro me sentar em uma mesa. E claro que como sempre acontece alguém se aproxima de mim e me pergunta se não vou dançar. Como sempre respondo que não, não gosto de dançar. Ao fim da festa falam que eu sou quietinha e/ou não aproveitei a festa direito.
         É verdade que talvez eu não tenha gostado muito da festa, mas aproveitei mais do que se tivesse dançado. Mas o que mais me incomoda não é o fato do que dizem, mas o que eu mesma digo: “não gosto de dançar”! Besteira! Eu amo a música e adoro deixá-la me dominar e controlar meus movimentos. Mas estou falando de música e dança de verdade.
         Há pouco tempo li Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, onde eram descritas várias vezes as festas da sociedade inglesa de sua época. Não que eu gostaria de freqüentar aquela sociedade preconceituosa e cheia de regras. Já é difícil agüentar a intolerância e idiotice da sociedade atual, mas quanto às festas daquela época... Verdadeiros cavalheiros e damas! Também há pouco tempo assisti ao filme Memórias Póstumas e talvez por isso esteja um tanto influenciada por épocas passadas. Mas sinceramente, aquelas músicas eram maravilhosas, harmoniosas, impecáveis. O rodopiar, o cavalheiro conduzindo a dama por todo o amplo salão, eis uma dança que causa uma sensação esplêndida para mim, aliás, creio que causaria prazer à maioria das pessoas.  
         Uma dança como essa seria a união perfeita entre dois seres que se amam, o dançarino e a música. Escrevi uma crônica onde eu comparava a música com o amor. A dança seria o sexo, uma união de certo modo carnal entre o ser físico e a abstração da música. Portanto afirmo em alto e bom som “EU AMO DANÇAR” (ainda que não o saiba), negá-lo seria como afirmar não gostar de sexo.
Melhor que simplesmente dançar é dançar com a pessoa amada. Juntar as duas maiores paixões em uma, um verdadeiro ménage a trois.
         Em minha opinião a melhor das danças, a mais bela de se assistir e provavelmente a mais gostosa de se dançar (um dia hei de aprender) é o tango. Não há dança mais sensual e significativa.
         Não tenho esperança de uma mudança repentina da preferência de ritmos de nossa sociedade, mas pretendo agarrar-me à idéia de que ainda encontrarei alguém que compartilhe o suficiente de minhas idéias para aceitar, um dia, guiar-me por um enorme salão ao som de um tango argentino.


Cris Neves