terça-feira, 21 de setembro de 2010

Atemporal




Você já sentiu algum dia que não pertence a seu tempo? Sinto isso a todo o momento. O problema é que não sei em que época eu deveria ter nascido. Certos momentos tenho claro em minha mente que não poderia viver em um mundo de mentalidade tão fechada quanto o de antigamente, ou até mesmo o atual. São nestes momentos que penso pertencer ao futuro.
Vejo que as pessoas de hoje em dia ainda tentam regular a vida dos outros quando em nada lhes diz respeito; ainda cultivam seus preconceitos e têm grandes dificuldades em quebrar paradigmas; ainda têm preguiça de pensar por si mesmas, se deixando levar pelo pão e circo de cada dia (tantas vezes carentes de pão, mas o circo não falta); ainda, ainda, ainda...
Em outros momentos me vejo buscando o passado, como por exemplo as décadas da primeira metade do século XX. Tempos de vida mais simples, de arte frutífera, moda tão atraente, grandes descobertas das ciências e tecnologias que davam esperança de um mundo melhor. Nos anos 60 o futuro retratado nas obras de ficção, como no desenho animado dos Jetsons ou no seriado Jornada nas Estrelas, nos mostravam a esperança daquela época em um futuro espetacular. Hoje, nossos filmes em geral nos pintam futuros pós-apocalípticos, indicando o declínio da raça humana, ao exemplo de Matrix.
Pensando sobre passado e futuro, sabendo bem a história que ficou  para trás e a para a qual caminhamos, sei que em ambos os tempos não me encaixo. O futuro não me parece otimista, pois sei que será formado pelas pessoas que hoje crescem expostas a uma educação de baixa qualidade e com poucos incentivos culturais. O passado, como já disse, traz um modo de pensar, de viver com o qual não concordo.
Volto-me então ao presente. Foi o tempo ao qual disse não sentir me encaixar, e disso estou certa. Ando entre as pessoas muitas vezes como um ser de outro planeta, em outras como uma pessoa invisível. Ou não me faço notar, por não ter com que contribuir, ou minha contribuição me destaca de tal forma que vejo no olhar das pessoas aquela diferenciação: não sou um igual.
Sou diferente, não há duvida. Também não sei se gostaria de ser de outra forma. Tenho certeza, no entanto, de que não pertenço ao presente. O passado não me aceitaria. O futuro não me quer. Sou alguém sem tempo e sem lugar.

Cristiane Neves
23/10/09
21:59