terça-feira, 26 de outubro de 2010

A Vela e a Tempestade




Eu observo a vela sobre a mesa. Dois terços da cera jaz derretida, espalhada pela madeira irregular. As linhas que formam lembram as esculturas criadas pelo efeito milenar de água infiltrando na rocha.
A luz que a chama produz não se projeta muito longe, de forma que a maior parte do amplo cômodo permanece no mais absoluto negrume. Mas olhando a vela assim, de perto, vejo a beleza do azul, amarelo, laranja e vermelho dançando ao ritmo do vento que penetra pela fresta da janela.
Lá fora a tempestade continua. Um relâmpago risca o céu e por alguns segundos tudo se ilumina. Quase simultaneamente o estrondo retumba. O raio caiu perto. A chuva parece longe de terminar.
Ouço as árvores sacudirem furiosas. A água cai com força sobre as telhas. Escuto gotas intrometidas batendo no chão em algum no cômodo, mas não consigo localizar.
Faz frio. Chego as mãos perto da vela. O calor não é suficiente para aquecer-me por completo, mas bastari deixar minha pele encostar a chama por alguns instantes para queimar-me.
A força do vento abre uma das janelas de madeira. A vela se apaga. Chove dentro de meu abrigo. Devagar e com cuidado, consigo chegar até a janela e fechá-la. A escuridão agora é completa. Tateando e com ajuda de alguns relâmpagos, consigo voltar para a mesa.
Acendo novamente a vela, mas ela permanece iluminada apenas por alguns minutos, reduzindo-se a uma mera poça de cera branca-amarelada, semiamolecida, esparramada na tosca mesa de tábuas.
A tempestade continua intensa. Eu permaneço sentada. Fecho os olhos e vejo o azul, amarelo, laranja e vermelho dançando. De repente, me tenho transformada em uma chama trêmulante brilhando no escuro. Foram apenas alguns segundos, mas abro os olhos e horas se passaram. A tempestade se reduziu a uma garoa suave. O dia começa a amanhecer, ainda cinzento, mas prometendo mudanças.
“Acabou a emoção...” – eu penso, enquanto vou para o quarto dormir.

Cristiane Neves
24/10/10
02:35

Nenhum comentário:

Postar um comentário