terça-feira, 24 de agosto de 2010

A caixa




Aqui estou eu de novo, na caixa. As quatro paredes, o chão, o teto. Já perdi a conta de quantas vezes eu estive aqui, vendo tudo desse mesmo modo. Eu estou numa caixa e não tenho como sair dela. A porta fechada, a janela fechada, nada de fora contamina o ambiente, nem a luz. Isto é só uma caixa.
O brilho da tv ilumina a caixa, é a única luz. As imagens passam mudas e sem significado. E quando eu as deixo falar e tento preencher minha mente, só tenho vontade de gritar.
            Quando eu era pequena, sempre que brincava de Barbie, desejava uma máquina que encolhesse e esticasse as coisas. Esticasse para que eu pudesse usar as roupas de minhas bonecas, e encolhesse para que eu pudesse entrar na casinha delas. Agora eu vejo que estou dentro daquela casa. Estou dentro da caixa de sapatos onde se fazia o quarto. Quando se colocava a tampa, e nada mais se via daquele minúsculo quarto, eu imaginava como seria lá dentro. Eu queria tanto entrar... E agora aqui estou, deitada, olhando para a tampa da caixa, querendo que alguém abra, para que eu possa sair, ou pelo menos ver o céu escuro.
Eu sei que poderia abrir a porta, e poderia colocar os pés lá fora, e eu poderia andar na noite fria, sob estrelas lindas e distantes. Mas não, na verdade eu não poderia, porque não há nada lá fora, porque não há nada lá fora para mim, sozinha. Quem sabe algum dia?




Cristiane Neves
2004

Nenhum comentário:

Postar um comentário