terça-feira, 1 de junho de 2010

O Novo Garoto na Cidade




There's talk on the street; it sounds so familiar
Great expectations, everybody's watching you
People you meet, they all seem to know you
Even your old friends treat you like you're something new

Johnny come lately, the new kid in town
Everybody loves you, so don't let them down
(...)
You're walking away and they're talking behind you
They will never forget you 'til somebody new comes along
Where you been lately? There's a new kid in town
Everybody loves him, don't they?
Now he's holding her, and you're still around
There's a new kid in town
just another new kid in town
Everybody's talking 'bout the new kid in town,

(New Kid in Town - Eagles)


Tem um novo garoto na cidade.
É de muito estudo e pouca idade,
Um símbolo de responsabilidade.
Pragmático, o moço se empenhou,
Tanto fez, tanto leu, e tanto lutou
Que por fim com esforço alcançou
Os sonhados sucessos profissionais.
Nem mesmo os veteranos jamais
Testemunharam talentos iguais.
Mas todo este seu conhecimento
Tinha apenas nas leis fundamento.
O moço não conhecia o tormento
A que se sujeita toda a população
Que diariamente pede em oração
Perdão, absolvição e salvação.

Cresceu cercado de amor e privilégio
Em casa, na rua, no clube e no colégio
A todos encantava seu talho régio.
Abençoado com inteligência e berço
Da vida ainda não conhece um terço,
Mas teve certeza desde o começo
De que tudo o que quer é possível.
O garoto seguiu realizando o incrível,
Sempre incansável, sempre invencível.
No funcionarismo público ingressou.
Para longe de casa a carreira o enviou
E, por fim, naquela cidade ele chegou.

Mas pobre novo garoto na cidade!
Ainda desconhece a maldade
Presente na personalidade
Das pessoas deste município.
E foi assim que, de princípio,
Chamou atenção do mulherio.
Aos poderosos, ele deslumbrou,
Aos influentes, ele encantou,
Por fim a todos conquistou.

Ó pobre garoto! À cidade mal chegou
E dela, mais uma vítima se tornou.
Cedeu a tentações, pecados abraçou,
Mergulhou em vícios e em vaidades,
Somem a personalidade e vontades,
Desaparecem as virtudes e bondades.

Aos poucos ele se transformará,
As opiniões certas aprenderá
E os gostos aceitáveis conhecerá.

Em breve, do mundo reluzente,
Dos ricos, dos bonitos e influentes
Se tornará habitante permanente

Por anos viverá feliz no prazer
Dos eternos luxo, luxúria e lazer
Agora alcançados sem nada fazer.
Ao garoto jamais faltará amizade,
Mas o preço de toda esta felicidade
Será a perda de sua identidade.

Então, um dia, o novo garoto acordará
E o reflexo no espelho não reconhecerá.
Apenas uma abelha no enxame ele verá.
Será um homem feito, de idade aparente,
Mantendo o comportamento adolescente.
E por um momento, seu olhar descrente,
Perguntará: “Cadê aquele garoto sedutor,
Que com toda a cidade era encantador?”
E então perceber-se-á homem, com horror.

O garoto novo na cidade não mais existe
E a sua realidade, terá de admitir, é triste.
Ele já é jornal de ontem, e agora subsiste
Repetindo as mesmas atitudes eternamente
Vivendo a rastejar no chão como a serpente
Em busca de presas para atacar, de repente.
Chacoalhando a cabeça terá fim o devaneio.
Se afastará do espelho e esquecido o anseio,
Ele voltará a frequentar aquele mesmo meio
ao qual, sem ver, aos poucos se acostumou,
Junto ao grupo que todo frescor lhe robou,
Com quem anos de juventude disperdiçou.

O homem antigo na cidade enfim vai caçar,
Quer uma vítima para ao enxame agregar,
Tomar-lhe a originalidade e o ciclo continuar.
Mas o mais triste, amigos, ainda não contei.
Aquele mesmo que andou com porte de rei,
Aquele mesmo que viveu para impor a lei,
Aquele que por um instante se viu acabado
E contemplou, rendido, o fim de seu reinado,
Ele abraçou e aceitou seu destino malfadado.
Com os companheiros seguiu a tirar proveito
De tudo e todos, e chegou até a prefeito.
Até o último de seus dias viveu satisfeito,
Exceto pelos raros momentos de clareza.
E isto é mais, muito mais, tenha certeza,
Que a maioria de nós alcançará. Tristeza!


Cristiane Neves
26/10/09

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