terça-feira, 22 de junho de 2010

Maió e Mió Nostalgia do Mundo




O Maió e Mió São Joao de Minas! Era esse o nome da festa. Não vou questionar a validade do título. Alias, a festa em si não é o importante, mas o clima em que a cidade se encontrava. Todo o lugar estava enfeitado para a festividade do padroeiro, as pessoas estavam alegres e havia muita gente de fora. Difícil era achar um carro que realmente tinha a placa de Caratinga.
            Como não foi gostoso chegar em casa e encontrar bandeirolas secando na copa! Foi inevitável que a lembrança de minha infância me assaltasse. De repente era como se eu tivesse um vestido de retalhos pronto em meu guarda – roupas esperando pelo dia em que rodopiariam no pátio da escola, durante a quadrilha ensaiada por tanto tempo pela tia.
            Como se essa festa junina toda não fosse o suficiente para causar uma total volta à infância, ainda resolvem fazer um monumento em homenagem ao filho favorito da cidade, Ziraldo. Uma estátua de dez metros do Menino Maluquinho em plena BR-116. Foi então que as lembranças não pararam de passar por minha mente. Eu, que já sou nostálgica por natureza, tive todos os incentivos possíveis para me deixar tomar pela saudade.
            Lembrava - me do Bichinho da Maçã, o livro autografado que meu irmão tinha ganhado de minha avó. E na casa dela como era ótimo ler, ou melhor, ver as figuras das historinhas da Super Mãe. Liam para mim (eu deitada no “minhocão”, uma almofada grande, amarela e marrom) e eu não entendia muitas das piadas, mas não importava. Era tão legal aquela coletânea de histórias curtinhas, sempre a Super Mãe atrapalhando a vida de seu filho que, aparentemente, vivia num eterno carnaval e atrás do máximo de mulheres possíveis.
Outra era o Flicts, a coitadinha da cor que ninguém queria. Esse eu mesma li, e até cortei o dedo uma vez em suas folhas de um papel rígido, deixando a marca de sangue lá para sempre. Era uma história linda, com um final que eu nunca vou esquecer. Ainda recordo de quando li pela primeira vez, eu fiquei realmente muito preocupada com o que teria acontecido com aquela pobre cor que foi subindo, subindo e sumiu. E quando veio a frase “Mas ninguém sabe a verdade, a não ser os astronautas...” eu não agüentava mais a curiosidade, meus olhos pularam imediatamente para a outra página e “que de perto, de pertinho, a lua é Flicts”. Ah, mas que felicidade saber que tinha sido esse o destino da cor. Saber que tinha ficado com uma lua inteirinha para ele, que todas as noites, embora as pessoas não soubessem, ele estava lá, no céu. Depois disso passei um bom tempo privilegiando aquele tom de marrom na minha caixa de lápis de cor.
É claro que era muito triste saber do que nunca voltaria. Andar pela cidade e saber do quanto mudara desde que eu era uma criança aprendendo a ler. Muito ruim pensar que eu nunca mais sairei com meus pais para passear e ir no “barzinho do vovô”, tomar o “feijão amigo” tão gostoso que a cidade vai ter de aprender a viver sem, pois o bar do gordo não existe mais. Meus avós aposentaram com toda a razão, mas dói pensar que catar bala e chicletes, nunca mais.
Agora estou aqui em Juiz de Fora, longe de minha cidade natal há quatro anos. Aquela já não é mais a cidade em que nasci, não tem mais os amigos que passavam a tarde no colégio à toa, só conversando e matando o tempo fazendo brincadeiras do compasso.  Mas aquela cidade eu ainda guardo e visito de vez em quando, como aconteceu no Maió e Mió São João de Minas.

Cristiane Neves
2002

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