terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Braços abertos, boca fechada



Algumas vezes, apenas algumas vezes, se abraça tão completamente que nada mais existe. Não estou falando necessariamente de amor, mas de abraço verdadeiro, com vontade, por inteiro. São dois corpos que se encostam, os braços enlaçam um ao outro, apertados, como se a força pudesse fazê-los uno. Talvez se fosse assim a compreensão pudesse ser alcançada. Seria o abraço perfeito. Na união dos todos – dois corpos ocupam o mesmo lugar na existência – tudo o que se queira que o outro saiba ele se tornaria, e você se tornaria e nada além haveria.
 

Haveria apenas o aconchego, o calor, o conforto, a certeza, o descanso, o não pensar, o puro sentir. Sentir que é certo, que se encaixa, que mais do que a única alternativa, é a verdadeira.
 

Ainda que não se alcance essa cumplicidade, o bom abraço parece emitir a energia do que se quer que saiba. É um abraço tão reconfortante que não deve acabar, mas ele também tem de chegar ao seu fim. Nesses casos de abraços completos, ambos descobrem simultaneamente o momento da separação. E é aí que vem a frustração, a dor maior: a palavra.
 

Sempre tem de se falar alguma coisa em determinado momento, responder uma pergunta, ainda que seja um cumprimento desnecessário como “tudo bom?”. É então que o som mata o toque. Por que não podemos simplesmente ficar calados? O silêncio nos acompanha no abraço e deveria nos acompanhar na partida.

Um dia ainda vou ter coragem de fechar os ouvidos, dar as costas e ir embora.



Cristiane Neves
2004

3 comentários:

  1. Evidente, Cris.
    O abraço deveria, e em grande parte dos que partem de mim são, um dos gestos mais sinceros, transparentes e completos...

    Não há, realmente, necessidade de palavras e demais complementos. Ele fala por si só e transmite, através de sua intensidade, todas as informações e sentimentos necessários.

    Lindo texto e agora entendo a complexidade do abraço, principalmente para você! rs...

    ABRAÇOS SIM... NOS MOMENTOS OPORTUNOS! rs...

    Adorei o post! (Dedica?!)

    Beijos e um ABRAAAAAAAÇO BEMMMMM APERTADO!

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  2. Lendo seu texto lembrei-se do abraço apertado de meu amigo Tico. A cada abraço podia sentir o carinho que tínhamos um pelo outro. Hoje consigo ver e perceber que muitos abraços apertados não foram tão intensos como os braços longos e fortes deste meu eterno amigo. Uma bela lembrança que me fez por um instante sentir novamente, mesmo sem tê-lo...Um abraço para vc minha amiga Cris, espero um dia poder lhe abraçar como esta doce lembrança de carinho de um amigo que tanto considero.
    Obrigada por me permitir sentir isso...por alguns segundos me senti muito feliz no que apenas me resta...recordar!
    Beijos

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