terça-feira, 9 de março de 2010

A frustração do Sentir





          Ontem eu estava ouvindo música. Não, mais do que isso: eu estava sentindo a música.
          Não sei se o leitor já sentiu música alguma vez, se não experimente. Primeiro não é toda e qualquer música, em qualquer lugar e hora, que pode ser sentida. Se quiser senti-la de verdade, da melhor maneira que há, deite confortavelmente em sua cama, sofá, rede, um campo verde ou florido, qualquer lugar em que se sinta bem. Escolha uma música perfeita, instrumental ou não (para mim instrumental funciona melhor), e ligue o som. Livre sua mente de pensamentos e se deixe envolver pelo som. A música se torna quase tangível, palpável. Você é capaz mesmo de sentir sua densidade, calor ou frio, dureza ou maciez.
          E não é só a música que podemos sentir, ela foi apenas um exemplo mais claro. O mundo está cheio de coisas para sentir. Um bom filme, um belo quadro, uma paisagem única, uma cena memorável, a natureza em si, tudo isso tem potencial para nos despertar sensações incríveis.
          E o amor? Ah!, esse é o pior! A necessidade da pessoa amada, vê-la, tocá-la, tê-la, é o mais forte dos “sentir”.
          Ao ser acometido por qualquer um desses sentimentos, seja o amor, a música, o filme, somos envolvidos por um turbilhão de emoções e nos sentimos flutuando no ar, subindo, querendo e tentando cada vez mais alcançar um ápice daquele sentimento, o que talvez possamos chamar de nirvana.
          Mas eis o momento em que a frustração nos arrebata. Até hoje não conheci ninguém que pudesse me dizer com certeza ter alcançado tal estado de espírito pleno.
          É como nunca chegar ao orgasmo, mas mais profundo, pois transcende o físico. E no campo do amor é onde essa frustração é mais forte. O amor implica num querer a pessoa amada por completo, absorvê-la, tornar-se um com ela. A impossibilidade dessa realização acaba deixando um vazio, por mais feliz que seja o relacionamento.
          Mas assim sempre foi e sempre será para nós, humanos. No plano físico não temos como alcançar o máximo do potencial de nosso espírito. A vida na terra é apenas uma amostra grátis das possibilidades que nos esperam quando nos livrarmos de nossos corpos e finalmente formos livres para o sentir supremo.


Cristiane Neves
2002

4 comentários:

  1. Achei tão interessante quando você utilizou a palavra 'sentimento' para o ato de ouvir a música, 'assistir' o filme... Implica numa intensidade, onde parece que nos transpassamos para outra dimensão, outro estado de espírito...

    Às vezes, falta sentir o amor! Assim, como vc exemplificou a música... mas é tão difícil... Até pq n depende só de uma pessoa e sim dos dois seres... É preciso estar em harmonia, em SINTONIA... O amor, como em qualquer outra situação, É SEMPRE O MAIS DIFÍCIL! rs...

    Mas espero que um dia possamos alcançar o ápice desse 'SENTIR O AMOR', mesmo que tenha que ser fruto do clímax físico - ou seja: ATRAVÉS DA DÁDIVA DE SER MÃE!

    *Elejo este o melhor post dos últimos tempos que ando lendo por aí!!!

    AND THE OSCAR GOES TO: Cris!!! o/

    Amei, amiga... Sinto falta de vc em meu dia a dia... Boas risadas me faltam... Ainda bem que conto com suas visitas esporádicas! rs...

    A-B-R-A-Ç-O-S... SUPER SINCEROS... (sintaaaaa)

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  2. O texto é grande, mas eu li, li tudinho, rsrs... Os seus eu leio, ja falei. E agora q estou com net novamente, dá pra ler e SENTIR seus textos sempre, rsrsrs.

    Eu adoro sentir a música q ouço, o filme q assisto ou o livro q leio. Adorei!

    Vo comentar nos outros textos!

    :)

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  3. Concordo minha amiga, a música pode ser até o ritmo da alma, tem a capacidade de nos envolver e até mesmo aflorar sentimentos..o silêncio às vezes é perturbador, nada como notas musicais para nos fazer sentir mais vivos, elevar nossos pensamentos...

    Perfeito!

    Beijos

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